quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

A Espiritualidade do Natal na Espiritualidade Clássica

A Espiritualidade do Natal
na Espiritualidade Clássica
Texto selecionado pela OESI

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Oração inicial:
"Deus Onipotente, que nos deste teu unigênito Filho para que tomasse sobre si a nossa natureza, e nascesse neste tempo de uma Virgem; concede que nós, renascidos e feitos teus filhos por adoção e graça, sejamos de dia em dia renovados por teu Santo Espírito; mediante nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém" (Livro de Oração Comum – Século XVI). 

Alegria do Natal
 “Alegremo-nos, irmãos, rejubilem e alegrem-se os povos. Este dia tornou-se para nós santo não devido ao astro solar que vemos, mas devido ao seu Criador invisível, quando se tornou visível para nós, quando o deu à luz a Virgem Mãe” (Agostinho de Hipona – 354-430).

A Bondade Divina
“A bondade divina sempre olhou de vários modos e de muitas maneiras pelo bem do gênero humano, e são muitos os dons da sua providência, que na sua clemência concedeu nos séculos passados. Porém, nos últimos tempos superou os limites da sua habitual generosidade, quando, em Cristo, a própria Misericórdia desceu aos pecadores, a própria Verdade veio aos extraviados, e aos mortos veio a Vida. O Verbo, coeterno e igual ao Pai, assumiu a humildade da nossa natureza humana para nos unir à sua divindade, e Deus nascido de Deus, também nasceu de homem fazendo-se homem”. (Leão Magno – 390-461).

A Manjedoura
 “Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós” (Agostinho – 354-430). 


A Festa
“Esta é a nossa festa. Isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas mas as coisas daquele que é nosso Senhor” (Gregório de Nazianzo). 

A Libertação
“O menino que se encontra na manjedoura … aquele que rompeu o jugo que a todos oprimia”. “Fazendo-se Ele mesmo servo para nos chamar à liberdade”. (Efrém, no século IV). 

A Lição do Natal
 “Mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompesse num forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós; que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra”. (Agostinho de Hipona – 354-430).

O Dia de Natal em nossa vida
“Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça” (Agostinho de Hipona – 354-430).


Santo berço do Presépio
“Com crescente alegria brilhe o céu e dê-se parabéns a si a gozosa terra: de novo, passo a passo, sobre o astro do dia aos seus caminhos anteriores… Oh! Santo berço do teu presépio, eterno Rei, para sempre sagrado para todos os povos e pelos próprios animais sem voz reconhecida” (Prudêncio, poeta hispânico do século IV).

Liturgia da Palavra:
Isaías 9.1-7
Mateus 1.18-25
Lucas 2.1-20
Mateus 2.1-11



A Pregação do Natal
“A virgem deu a luz, quem explicará? O Verbo se fez carne; quem explanará este mistério? Se o verbo de Deus vagiu na boca de uma criança, como poderá falar dele o homem cheio de imperfeição? Mas como a estrela iluminou os magos em busca da luz, assim a palavra do pregador deve dar a conhecer a seus ouvintes o nascimento de Deus, a fim de se regozijarem com o encontro com Cristo e, mais que perscrutarem  seus divinos segredos, honrarem com dádivas  o Menino-Deus.. Orai irmãos meus, para que se digne crescer, pouco a pouco, em minha palavra, aquele que aceitou crescer num corpo como o nosso.” Pedro Crisólogo  (406-450).

O Sol da Justiça
 “Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta” (Máximo, bispo de Turim no século IV).


Acolher o Natal
“Preparemo-nos pois, irmãos, para acolher o Natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afetos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas” (Máximo de Turim - †423).


Alegria na gruta
“Terra e céu rejubilem juntamente, diante do Emanuel que os profetas anunciaram, tornado criança visível, que dorme num presépio”. “A alegria acaba de nascer numa gruta. Hoje os coros dos anjos unem-se a todas as nações para celebrar.... Hoje toda a humanidade, desde Adão, dança. Bendito seja Deus, recém-nascido” (Romano Melode, poeta siríaco do século VI).


Nasceu o Salvador
Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens...’. Porque veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?” (Leão Magno – 390-461).

Nasceu o verdadeiro Sol
 “Hoje nasceu para nós o Salvador. Nasceu, portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol. Deus Fez-se homem para que o homem se fizesse Deus. Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a condição de servo. Habitou na terra o morador do céu para que o homem, habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus” (Agostinho – 354-430). 


O Cristo Menino
“Aquele que estava deitado na manjedoura fez-se frágil, mas não renunciou à sua condição divina; assumiu aquilo que não era, mas permaneceu aquilo que era. Eis que temos diante de nós Cristo menino: cresçamos juntamente com Ele” (Agostinho – 354-430). 


A Sabedoria de Deus
“Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu” (Sl 84.12). (Agostinho – 354-430). 


Oração do Pai Nosso

O que o natal representava para os Pais da Igreja?
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quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Festa da Transfiguração - 06 de agosto - Liturgia Bizantina

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Homilia do Monte Tabor
São Mateus, o evangelista, descreve a transfiguração, no Monte Tabor, desta maneira:
«Depois de profetizar o Senhor para os Discípulos, a Sua morte na cruz, tomou Pedro, Tiago e João, seu irmão, e subiu com eles um monte alto (monte Tabor na Galiléia) sozinhos. Foi, então, transfigurado diante deles. O Seu rosto brilhou como o Sol e Sua vestidura tornou-se branca como a luz. Apareceram, também, Moisés e Elias, que falavam com Ele. Pedro alvitrou, então, que era bom ficar ali. Se quiser, disse ele, teremos aqui três tabernáculos, um para o Senhor, um para Moisés e outro para Elias. Enquanto ele falava, uma nuvem luminosa cobriu-os e uma voz dizia: ‘Este é Meu Filho amado em quem Me comprazo, ouviu-o’. Quando ouviram os discípulos caíram sobre seus rostos e tiveram muito receio. Veio Jesus e tocou neles dizendo: “Levantai-vos, não temais”. Levantaram os olhos e não viram mais ninguém, senão Jesus sozinho. Enquanto desciam do monte, recomendou-lhes Jesus que não contassem para ninguém o que viram até que ressurgisse o Filho do Homem de entre os mortos" (Mt 17, 1-10).
No Oriente bizantino a festa do 6 de agosto, Santa Transfiguração de Nosso Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, reveste-se de uma solenidade toda especial. Essa festa é lembrada desde o século IV pelos santos Efrém, o Sírio e João Crisóstomo e, entre os hinos litúrgicos, até hoje ainda em uso entre os bizantinos, muitos são de autoria de São Cosme de Maiúma e de São João Damasceno. Já no dia anterior à festa se evidencia a importância do evento em que aparecem a beleza primordial da criação e o inteiro plano salvífico:
«Hoje, em tua divina transfiguração,
a inteira natureza humana
brilha de divino resplendor
e exclama com júbilo: O Senhor transfigura-se
salvando todos os homens».
Kondakion da vigília (Modo 4)
O tropário final da festa, bem como o kondakion, são repetidos mais vezes até o dia 13 de agosto. Ei-los:
«Ó Cristo Deus,
te transfiguraste sobre a montanha,
mostrando aos discípulos tua glória,
à medida que lhes era possível contemplá-la.
Também sobre nós, pecadores,
deixa brilhar tua luz eterna,
pelas orações da Mãe de Deus.
ó Doador da luz, glória a ti!»
Kondakion (Modo Grave)
«Sobre o monte te transfiguraste e os teus discípulos,
à medida que o podiam, viram a tua glória, ó Cristo Deus,
a fim de que quantos te vissem crucificado,
compreendessem que a tua paixão era voluntária
e proclamassem ao mundo
que tu és verdadeiramente o resplendor do Pai.»
Com efeito, a narrativa evangélica, transmitida por Mateus, Marcos e Lucas, se encontra entre dois prenúncios da paixão de Cristo, e os três discípulos presentes ao evento da transfiguração são os mesmos que assistirão, embora de longe e sonolentos, à dolorosa oração de Jesus no Jardim das Oliveiras. Com freqüência no-lo lembram os textos litúrgicos bizantinos próprios do dia, como, por exemplo, este trecho das Vésperas:
«Antes da tua crucificação, Senhor,
o monte tornou-se parecido ao céu
e uma nuvem encobriu-o como uma tenda;
enquanto te transfiguravas, o Pai te testemunhou qual Filho.
Estavam ali presentes Pedro, Tiago e João,
os mesmos que estariam presentes contigo na hora da traição,
para que, tendo contemplado as tuas maravilhas,
não se perturbassem ao contemplar teus sofrimentos.
Concede também a nós, por tua misericórdia,
contemplá-los na paz.»

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O ícone da Transfiguração encontra-se com freqüência, também porque é um tema que o iconógrafo deve privilegiar na sua atividade pictórica. Ele fica exposto, no meio da igreja, à veneração dos fiéis, desde a tarde do dia 5 de agosto até 13 do mesmo mês. O complexo pictórico resume bem o conjunto da festa conforme o esquema que nos foi transmitido por séculos. Ao centro domina a figura do Cristo em vestes brancas. Raios de luz se desprendem da sua pessoa e se espalham em todas as direções rumo à extremidade de um círculo, símbolo da verdade. Ele está no alto de um monte e aos lados, sobre dois picos rochosos, admiramos as figuras de Moisés e Elias, ligeiramente inclinados para o Salvador, com o qual conversam, representantes respectivamente da Lei e dos Profetas, que têm na pessoa do Salvador os seus cumprimento. Embaixo, a cena é mais movimentada e apresenta figuras do Novo Testamento: os três discípulos escolhidos para subir ao monte estão em atitude de grande espanto. À direita (de quem olha), Pedro, de joelhos, com uma das mãos se apóia no chão e com a outra aponta para o divino fulgor que observa de esguelha. Tiago e João estão caídos no chão e cobrem os olhos ofuscados pela luminosa teofania. A fraqueza humana perante o evento excepcional, por contraste, ressalta a paz transcendente e a divina segurança de Jesus, centro de tudo.
A tradição oriental reconhece na Transfiguração uma nova manifestação trinitária após a ocorrida no batismo de Jesus, porque no Tabor «a voz do Pai dá testemunho, o Espírito ilumina e o Filho recebe e manifesta a palavra e a luz.»
Existem outros temas sobre os quais os hinos litúrgicos dessa festa querem atrair a atenção dos fiéis: a "metamorfose" de Cristo "resplendor" do Pai; o prenúncio da Ressurreição de Jesus e nossa; a divinização da natureza humana, obscurecida em Adão e agora iluminada. Eis alguns desses temas hinográficos:
«Luz imutável da luz do Pai não gerado, ó Verbo,
na tua luz brilhante hoje no Tabor vimos a luz do Pai
e a luz do Espírito que ilumina toda criatura.
Vinde, subamos à montanha do Senhor,
à casa do nosso Deus,
e veremos a glória da transfiguração,
glória do Unigênito do Pai;
na luz receberemos a luz
e, elevados pelo Espírito,
cantaremos nos séculos a Trindade consubstancial.
Ó Cristo, te revestiste do Adão inteiro,
iluminaste a natureza outrora obscurecida
e na metamorfose do teu aspecto a divinizaste».
A teologia oriental insiste sobre a graça incriada, participação na luz que envolveu o Cristo no Tabor, «Graça deificante, emanação do Espírito Santo que vem a iluminar a Esposa para torná-la nupcialmente conforme ao Esposo», como escreve C. Andronikov, acrescentando:
«A Transfiguração, festa teleológica por excelência, nos permite aguardar a Páscoa e prever o porvir para além da parusia.»
A oração de São João Damasceno (século VIII), na Ode nona do seu Cânon para o dia 6 de agosto, é um convite que se estende até os nossos dias, para todos nós:
«Vinde, ó povos, segui-me;
subamos à montanha santa, rumo ao céu.
Fixemos espiritualmente a nossa morada
na cidade do Deus vivente
e contemplemos a divindade imaterial do Pai e do Espírito
que, em seu Filho único, resplandece.
ó Cristo tu me atraíste
e transformaste com o teu divino amor;
queima, pois, os meus pecados
na chama do fogo imaterial
e enche-me de tuas delícias,
para que, exultante de alegria,
possa glorificar, ó Deus de bondade,
as tuas duas vindas».
Para a igreja de tradição bizantina, a festa da Transfiguração (Metamórphosis) de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo" é uma das 12 solenidades do calendário litúrgico. Isso traduz toda a teologia da divinização do homem.
Em um dos hinos da festa canta-se:
«Hoje, no Tabor,
transformou Cristo a escura natureza de Adão:
revestindo-a de seu esplendor, divinizou-a».
A referida festa parece ter surgido como comemoração de dedicação das basílicas do monte Tabor.
É posterior à festa da Exaltação da Cruz, da qual, no entanto, depende quanto à fixação de sua data. Com efeito, segundo uma tradição, a Transfiguração de Jesus tinha acontecido 40 dias antes da crucifixão. A solenidade tinha-se, pois, fixado no dia 6 de Agosto, isto é, 40 dias antes da Exaltação da Cruz, que é celebrada no dia 14 de Setembro.
A relação entre uma e outra festa sublinha-se, igualmente, pelo fato de que no dia 6 de Agosto começam a cantar-se os hinos (catavasias) da Cruz. Alguns hinos de Vésperas da festa começam, efetivamente, fazendo alusão à Cruz:
«Antes de tua Cruz, Senhor,
imitar o céu propôs-se o monte:
estendeu-se a nuvem como tenda.
Enquanto tu te transfiguravas
e de ti testemunho o Pai dava,
presentes ali estavam Pedro, João e Tiago,
uma vez que tinham também
de acompanhar-te no momento da entrega,
para que, com a visão de tua majestade,
não fossem de temores fácil presa
diante de tua dolorosa Paixão».
A festa tinha-se já propagado nos fins do século V. No século VI, já encontramos grandes representações que cobrem as capelas das ábsides centrais, nas basílicas de Parenzo, de Santo Apolinário em Ravenna, do Mosteiro de Santa Catarina no Sinai. Desde o princípio, o esquema iconográfico reproduz o momento central do relato evangélico, de sorte que poucas são as variantes e as adições particulares através dos séculos.
«Tu te transfiguraste, Cristo, no monte;
tua glória contemplaram os discípulos,
a fim de que, na cruz cravado ao ver-te,
pudessem compreender
que a Paixão era em ti voluntária
e ao mundo proclamassem
que tu és de verdade o esplendor do Pai.
Erguei-vos, preguiçosos,
não queirais à terra viver sempre apegados;
o vôo erguei até a altura,
rasteiros pensamentos de pecado
que minha alma amarrais ao terreno.
Corramos com Tiago, João e Pedro
e ao Tabor acorramos com presteza
para com eles ver de Deus a glória
e a voz escutar ouvida por eles
e na qual o Pai eterno confessaram».
Neste dia trazem os fiéis as frutas para a Igreja para que sejam abençoadas, como se fazia, antes, oferecendo as primícias para o Templo, conforme a lei.


FONTE:
DONADEO, Madre Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: AM Edições.
PASARELLI, Gaetano. O Ícone da Transfiguração. São Paulo: AM Edições


quinta-feira, 6 de abril de 2017

Orações para a SEMANA SANTA - Ano A

Orações para a
SEMANA SANTA 

Baseado no Livro de Oração Comum
da Igreja Protestante do Século XVI


ANO A

Orientação: Ore a oração do Dia, leia as Leituras indicadas, faça um período de silêncio (5 minutos) e termine com a Oração do Pai Nosso.

LITURGIA DE RAMOS – Domingo pela manhã.
Cor litúrgica: vermelho
Oração
            Onipotente e Eterno Deus, de tal modo amaste o mundo, que enviaste teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, para tomar sobre si a nossa carne e sofrer morte na cruz, dando ao gênero humano exemplo de sua profunda humildade; concede, em tua misericórdia, que imitemos a sua paciência no sofrimento e possamos participar também de sua ressurreição; mediante o mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém
 Leituras:
Ano A: Is 50:4-9a; Sl 31:9-16; Fp 2:5-11; Mt 26:14-27.66 ou Mt 27:11-26
Ano A: Mt 21:1-11; Sl 118:1-2, 19-29

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LITURGIA DA PAIXÃO  - Domingo a Noite.
Cor litúrgica: vermelho
Oração
            Deus Todo-poderoso, o teu Filho querido não ascendeu à alegria sem que primeiro sofresse a dor, nem entrou na glória sem ser crucificado; concede-nos misericordioso que, andando nós no Caminho da Cruz, nele encontremos a vida e a paz. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.
Leituras:
Ano A: Is 50:4-9a; Sl 31:9-16; Fp 2:5-11; Mt 26:14-27.66 ou Mt 27:11-26

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SEGUNDA-FEIRA SANTA
Cor litúrgica: vermelho
Oração:
            Onipotente Deus, cujo Filho muito amado não gozou perfeita alegria, senão após o sofrimento, e só subiu à glória depois de crucificado; concede-nos misericordioso que, seguindo o caminho da cruz, seja este para nós vereda de vida e paz; por Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
 Leituras: Anos A, B, C: Is 42:1-7; Sl 27:1-8; Heb 9:11-15; Jo 12:1-8.

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TERÇA-FEIRA SANTA
Cor litúrgica: vermelho
Oração:
            Ó Deus, que pela paixão de teu bendito Filho, fizeste com que o instrumento da morte vergonhosa se tornasse para nós símbolo de vida; concede que nos glorifiquemos na cruz de Cristo, a fim de que alegremente suportemos infâmias e privações, por amor de teu Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
 Leituras: Anos A, B, C: Is 49:1-6; Sl 71:1-12; 1 Cor 1:18-31; Jo 12:27-36

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QUARTA-FEIRA SANTA
Cor litúrgica: vermelho
Oração:
            Ó Senhor Deus, cujo bendito Filho, nosso Salvador Jesus Cristo, teve o seu corpo torturado e seu rosto cuspido; concede-nos a graça de enfrentar com esperança os sofrimentos deste tempo e de confiar na glória que há de ser revelada; por Jesus Cristo teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
 Leituras: Anos A, B, C: Is 50:4-9a; Sl 70; Heb 12:1-3; Jo 13:21-30  e  Mc 12:1-11

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QUINTA-FEIRA SANTA
Cor litúrgica:
branco

Oração
            Ó Pai Onipotente, cujo amado Filho, na noite anterior à sua paixão, instituiu o Sacramento do seu Corpo e Sangue; concede-nos, misericordioso, que dele participemos agradecidos, em memória daquele que nestes santos mistérios nos dá o penhor da vida eterna, teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

Leituras:
Ano A: Êx 24:1-11; Sl 116; 1 Co 10:16-17; Mt 26:36-56

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SEXTA-FEIRA SANTA
Cor litúrgica:
vermelho
Oração
             Deus Onipotente, nós te suplicamos olhes com misericórdia para esta família que é tua, e pela qual nosso Senhor Jesus Cristo não hesitou em entregar-se, traído, às mãos de homens iníquos, e sofrer morte de cruz; o qual vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
            Onipotente e Eterno Deus, que por teu Espírito governas e santificas todo o corpo da Igreja; recebe as súplicas e orações que por todos os seus membros te oferecemos, para que estes, na sua vocação e ministério, te sirvam com verdadeira piedade e devoção; mediante nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.
           
 Leituras:
Ano A: Is 50:4-7; Sl 22; 2 Co 5:(14-18)19-21; Mt 27:(27-32)33-50 

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SÁBADO SANTO PELA MANHÃ
Cor litúrgica:
vermelho
Oração
Ó Deus, Criador do céu e da terra; concede que, assim como o corpo crucificado de teu amado Filho foi colocado no túmulo e descansou neste sábado santo, também sepultados com Ele aguardemos o terceiro dia e com Ele ressuscitemos para uma vida nova; o qual vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém.

 Leituras: Anos A, B, C: Jó 14:1-14,  Lm 3:1-9, 19-24; Sl 31:1-4,15-16; 1 Pe 4:1-8; Mt 27:57-66 e  Jo 19:38-42


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domingo, 19 de março de 2017

A liturgia e o Canom do Novo testamento.

A liturgia e o Canom do Novo testamento.

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A liturgia necessita da Palavra de Deus.
Veja a relação do canom do Novo Testamento e os Pais da Igreja.
Segundo F. F. Bruce, "os livros do Novo Testamento não se tornaram escritos revestidos de autoridade para a Igreja porque foram formalmente incluídos em uma lista canônica; pelo contrário, a Igreja incluiu-os no cânon porque já os considerava divinamente inspirados, reconhecendo neles o valor inato e, em geral, a autoridade apostólica, direta ou indireta." Sobre os primeiros concílios canônicos, que se realizaram no Norte da África, em Hipona Régia (393 d.C.) e em Cartago (397 d.C.), Bruce afirma que eles "não objetivavam impor algo novo às comunidades cristãs, pelo contrário, o intuito era sistematizar o que já era uma prática comum." Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, pg 36. - Clemente de Roma, 96 d.C.: demonstra conhecer Mateus, Romanos, 1 Coríntios e Hebreus. - Inácio, de Antioquia (116 d.C.), Policarpo, de Esmirna (69-155 d.C.), e Papias, de Hierápolis (80-155 d.C.), atestaram Mateus, João, as epístolas paulinas, 1 Pedro, 1 João e Atos. - O Didaquê, 120 d.C.: destaca Mateus e conhece a maioria dos livros do NT. - Justino Mártir, 100-165 d.C.: atestou Apocalipse, Hebreus e Marcos. - Marcião, 140 d.C.: o heresiarca em questão reconheceu Lucas e dez epístolas de Paulo. - Hermas, 150 d.C.: autentica Mateus, Efésios, Apocalipse e, aparentemente, Hebreus e Tiago. - Teófilo de Antioquia, 115-188 d.C.: adotou a maior parte dos livros do NT. - Clemente de Alexandria, 155-215 d.C.: aceitou todos os livros do NT. - Melito, de Sardes, 170 d.C.: citou trechos de todos os livros do NT, exceto Tiago, Judas e 2 e 3 João. - Vulgata Latina, antes de 170 d.C.: atesta todos os livros do NT, menos Tiago e 2 Pedro. Hebreus foi acrescentada antes dos tempos de Tertuliano. - O Fragmento Muratoriano, 172 d.C.: autentica os quatro Evangelhos, Atos, nove epístolas de Paulo às igrejas e quatro pessoais, as cartas de Judas, 1 e 2 Pedro e 1 e 2 João e Apocalipse. Acrescenta o Pastor de Hermas, mas observa que, embora seja um livro digno de ser lido nas igrejas, não possui a mesma autoridade que os canônicos. - Irineu, 140-203 d.C.: o discípulo de Policarpo, que fora discípulo de João, reconheceu os quatro Evangelhos, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 1 Pedro, 1 João e Apocalipse. - Tertuliano, 150-222 d.C.: atesta os quatro Evangelhos, treze epístolas paulinas, Atos, 1 Pedro, 1 João, Judas e Apocalipse. Rejeitou Hebreus por acreditar que o autor era Barnabé. - Orígenes de Alexandria, 185-253 d.C.: aceitou, inclusive, os livros que eram mais contestados, como Hebreus, 2 Pedro, 2 e 3 João, Tiago, Judas e Apocalipse. - Cipriano, 200-258 d.C.: não atestou Hebreus e não citou Filemom, Tiago, 2 e 3 João e Judas. - Dionísio de Alexandria, 200-265 d.C.: autenticou Hebreus e reconheceu Apocalipse, Tiago e 2 e 3 João. - Papiros de Chester Beatty, século III: autenticam os quatro evangelhos, Atos, as epístolas paulinas, Hebreus e Apocalipse. - Atanásio de Alexandria, 298-373 d.C.: considerou canônicos os 27 livros que hoje compõem o NT. - Basílio da Capadócia, 329-378 d.C., e Gregório de Nazianzo, 330-390 d.C., reconhecerem todos os livros do NT, menos Apocalipse, mesmo tendo-o citado como obra de João. - Jerônimo, 340-420 d.C.: atestou todos os livros do NT. - João Crisóstomo, 347-407 d.C.: aceitou todos os livros do NT, menos 2 Pedro, 2 e 3 João e Apocalipse. - Teodoro de Mopsuéstia, 350-428 d.C.: rejeitou as epístolas universais e Apocalipse, seguindo o Cânon de Constantinopla. - Agostinho, 354-430 d.C.: aceitou todos os livros, inclusive os 7 que eram questionados. - A Peshita, 411-435 d.C.: também seguiu o Cânon de Constantinopla. - Os Concílios: a delimitação do cânon do NT não foi obra dos concílios, mas do valor intrínseco de cada livro. O Terceiro Concílio de Cartago, 397 d.C.: a primeira decisão oficial sobre o cânon, determinando que só os livros canônicos poderiam ser lidos nas igrejas - atestou os 27 do NT atual. O Concílio de Hipona (420 d.C.), confirmou o de Cartago. A seleção do cânon foi, portanto, um processo espontâneo que se desenrolou na Igreja ao longo dos séculos, até que cada livro fosse autenticado. "O cânon do NT formou-se espontaneamente, e não pela ação dos concílios da igreja. A inspiração e a autoridade intrínseca foram os fatores determinantes em seu reconhecimento e efetiva canonização. Em 200 d.C., o NT já continha essencialmente os mesmos livros que temos hoje. (...) Antes do final do século III, praticamente todos os livros extracanônicos já haviam sido expurgados das listas autorizadas. (...) Durante o século IV, praticamente cessou no Ocidente o debate sobre as questões do status canônico de determinados livros, isso graças à influência de Jerônimo e de Agostinho." Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, Vida Nova, 2006, pgs 709-714.

Leia mais em: http://entreomalhoeabigorna.blogspot.com.br/2014/12/o-canon-do-novo-testamento-foi.html

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

A Quaresma: Origem e Práticas.

A Quaresma: Origem e Práticas
Rev. Edson Cortasio Sardinha

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I. A Quaresma
A Quaresma é mencionada pela primeira vez no Concílio de Nicéia (o primeiro Concílio de Niceia foi uma reunião de bispos cristãos reunidos na cidade de Niceia da Bitínia, atual İznik, Turquia, em 225 d.C).  
 Foi criada a partir de duas práticas da Igreja Primitiva: O longo jejum anterior à Páscoa e o período de preparação para o batismo. Desde o II século o candidato ao batismo esperava três anos para ser batizado. O batismo ocorria uma vez ao ano, no dia da Páscoa. Na Sexta feira santa ele ia à igreja e colocava as roupas de neófitos. Ali ficava em jejum até o Domingo da Ressurreição onde era batizado nu, em geral por derramamento.
O número quarenta foi determinado pela duração do jejum do Senhor Jesus no deserto. Para alguns líderes da igreja do passado, a quaresma terminava na Quinta-feira Santa e a contagem de 40 dias não contemplava os sábados e domingos.
Hoje é um tempo de oração onde a Igreja é chamada a conversão, oração, arrependimento e avivamento. Se fosse levada a sério mudaria a fisionomia do cristianismo no Brasil.

II. A Origem Judaica
Esta tradição cristã veio do Rito da Expiação do judaísmo. A palavra expiação aparece poucas vezes na Bíblia, mas o seu conceito constitui o assunto principal do Antigo e do Novo Testamento.  Palavras mais conhecidas como reconciliação, propiciatório, sangue, remissão de pecados e perdão estão diretamente relacionadas com esse tema.
Todo israelita sabia que "aos dez do mês sétimo era o Dia da Expiação" (Levítico 23:27).  Havia sacrifícios diários pelo pecado, mas esse era um dia especial, de santa convocação.  Levítico 16 diz que o Sumo Sacerdote: 1. se purificaria com água; 2. vestiria suas vestes santas de linho; 3. mataria um novilho para fazer expiação por si e pela sua família; 4. tomaria uma vasilha de brasas do altar e entraria no Santo dos Santos para que a nuvem de incenso cobrisse o propiciatório, que era o lugar da expiação, da propiciação e da reconciliação; 5. sairia, tomaria o sangue do novilho, entraria pela segunda vez no lugar santo com o sangue e o aspergiria sete vezes sobre o propiciatório e diante dele; 'mataria o bode para a oferta pelo pecado, ultrapassaria o véu pela terceira vez e faria com o sangue como tinha feito com o sangue do novilho; faria expiação pelo lugar santo e pelo altar do holocausto; imporia as mãos sobre a cabeça do bode vivo, confessaria os pecados do povo e enviaria o bode para o deserto; e tiraria as vestes de linho, iria lavar-se, poria outra roupa e ofereceria um holocausto por si e pelo povo.
Esse dia era impressionante, santo e de grande importância porque os pecados de Israel eram expiados por meio de sangue. Já que "é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados" (Hebreus 10:4), esse ritual devia repetir-se a cada ano (Levítico 16:34) até aquele dia grandioso em que Cristo seria "oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos" (Hebreus 9:28).
Hoje este o dia da Expiação é conhecido como Yom Kippur. Yom Kippur é o Dia do Perdão, uma das datas mais importantes do Judaísmo.
No calendário judaico atual começa no crepúsculo que inicia o décimo dia do mês hebreu de Tishrei (que coincide com Setembro, Outubro ou Novembro), continuando até ao seguinte pôr do sol. Os judeus tradicionalmente observam esse feriado com um período de jejum de 25 horas e oração intensa.
Existem 6 proibições no Yom Kippur: Comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kippur); usar calçados de couro; manter relações conjugais; passar cremes, desodorante, etc. no corpo; banhar-se por prazer e usar eletrodomésticos.
A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma. Pela perspectiva judaica, o ser humano é constituído pelo yetzer hatóv (o desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo).
A tradição judaica coloca ao mês de EluI, último do ano, como prefácio para ir preparando o homem para a reflexão profunda, até o grande caminho interior. Cedo, nas manhãs de Elul se ouve o som do shofar. Uma semana antes de Rosh Hashaná (Ano Novo Rabínico), também durante a madrugada, se dizem as orações que se chamam "selichot" - perdões). O 1º de Tishrei é o grande dia, a base para um ano novo e um novo ano de vida. Depois seguirão nove dias até o dia do perdão. Dez dias, para aprofundar-se dentro de si, afastar o mal, aproximar o bem. O processo chega a sua culminância no dia 10º de Tishrei : Yom Kipur.

III. A Tradição da Igreja
No Lecionário Cristão a segunda-feira da IV Semana da Quaresma a reflexão é realizada em Levítico justamente sobre o Dia da Expiação.
Orígenes no século III fez um belo sermão sobre o Dia da Expiação e o Sacrifício de Cristo na cruz. Ele diz:
“Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote. Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício ao gênero humano e interceder por todos os que nele creem”.

IV. Como viver o período Quaresmal?
Os domingos: Os domingos da Quaresma são ricos. Os Evangelhos e os textos Bíblicos convidam para o arrependimento e nos preparam para o sacrifício do Senhor.
Lecionário: Leia as leituras Bíblicas de cada domingo que são apresentadas no final do Boletim, segundo o Lecionário Comum.
Jejum: Faça jejum uma vez por semana, de preferência na sexta-feira lembrando-se da morte do Senhor. Caso tenha dúvidas, por motivo de saúde, pergunte ao seu médico sobre a duração do jejum e o que não poderá se abster nestas horas.
Abstinência: Faça abstinência em oração e consagração de alguma coisa importante para você. (televisão, carne, refrigerante, etc.).
Oração: Coloque diante de Deus diariamente sua vida e família e clame por conversão e unção de Deus para que possamos viver verdadeiramente a justiça e a paz de Cristo no mundo.
Leituras de Espiritualidade: Procure leituras próprias para este período. Livros que falem sobre oração, jejum, conversão, perdão, etc.
Caridade: Não apenas na Quaresma, mas em todo o tempo, viva o jejum praticando a Caridade e o amor ao próximo. Neste tempo procure fazer uma caridade relevante e sigilosa.
Conversão: Todo tempo pensamos na necessidade de conversão. A Quaresma nos ajuda a aprofundar este exame pessoal e nos convida ao arrependimento e a volta ao Senhor.
Retiros Quaresmais: Participe de Retiros Quaresmais. Estaremos em Retiro todas as Sextas-feiras da Quaresma, das 7 horas da manhã às 7:40h. 



Referências
LERNER, Breno. A Cozinha Judaica. Série receias internacionais. Glosário, pg. 8. Editora Melhoramentos. São Paulo (2001).
Lynn D. Headrick. O que Está Escrito? In http://www.estudosdabiblia.net/

Orígenes, presbítero, Das Homilias sobre o Levítico, – in http://pantokrator.org.br/po/mediacenter/leitura-oficio/leitura-oficio-segunda-feira-da-iv-semana-da-quaresma/

Solene Oração com os Pais da Igreja pelo Início da Quaresma



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Solene Oração com os Pais da Igreja pelo Início da Quaresma

Texto organizado pela OESI

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Introdução:
E nós, meus irmãos, nós que recebemos do Invencível Combatente as sagradas práticas da Quaresma, saibamos repelir os desejos da carne e mortificar o corpo com jejuns, a fim de que cresçam as virtudes na nossa alma. Jejum das funestas paixões e prazeres, jejum de toda a injustiça, jejum do odioso espírito de rivalidade. Renunciemos, meus irmãos, aos festins, mas renunciemos mais ainda aos nossos vícios. Saibamos escolher a temperança. Abster-nos do vinho, a fim de que saibamos resistir à embriaguez dos prazeres. De que nos servirá, com efeito, jejuar durante quarenta dias se não respeitarmos a lei do jejum? De que nos serve fugir aos banquetes, se ocuparmos em discórdias os nossos dias? De que nos serve não comer o pão que nos cabe, se tirarmos a comida da boca do pobre? O jejum para o cristão que escolhe as privações deve ser alimento espiritual. O jejum para o cristão deve preparar a paz e não as lutas. De que te serve não comer carne, se da tua boca se soltam injúrias piores que qualquer alimento? De que te serve santificar o estômago com jejuns, se as mentiras te mancham a boca? Em verdade te digo, meu irmão, que não tens o direito de entrar na Igreja se continuas enredado e envolvido nas malhas mortais da usura voraz, que não tens o direito de invocar o teu Senhor se as tuas orações vêm do teu coração invejoso; que não tens o direito de bater no peito se nele se escondem os teus maus desejos. A moeda que deres ao pobre só será justa, quando fores pobre também. Eis, irmãos muito amados, a verdadeira fome religiosa, eis o alimento das almas tementes a Deus. As almas que santificaram o jejum pela castidade, que o tornaram alegre pela caridade, que o aformosearam pela paciência, que o acalentaram pela bondade, que lhe deram o seu justo preço pela humildade. Meus irmãos, vivamos a Quaresma de Cristo com todas as nossas forças e, pela prática daquelas virtudes, façamos que seja nossa, pelos dois gêmeos jejuns do corpo e do espírito, a graça divina. Amém (Máximo de Turim (380-465) – As práticas Quaresmais).
Adoração:
Nós, os novos batizados, os filhos do batistério que acabamos de receber a luz, damos-Te graças, Cristo Deus. Tu iluminaste-nos com a luz do Teu rosto, Tu revestiste-nos com a veste que convém às Tuas núpcias (Sl 4, 7; Mt 22, 11). Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado.  Quem dirá, quem mostrará ao primeiro homem criado, Adão, a beleza, o brilho, a dignidade dos seus filhos? Quem contará também à infeliz Eva que os seus descendentes se tornaram reis, revestidos de uma veste de glória, e que com grande glória glorificam Aquele que os glorificou, brilhantes de corpo, de espírito e de veste? […] E quem os exaltou? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. […] Tu és brilhante e radioso, Adão. […] Ao ver-te, o teu adversário definha e exclama: Quem é este que vejo? Não sei. O pó foi renovado (Gn 2, 7), as cinzas foram divinizadas. O pobre doente foi convidado, foi refrescado, entrou e sentou-se à mesa, foi conduzido ao banquete e tem a audácia de comer e o desplante de beber Aquele que o criou. E quem Lho deu? Foi, evidentemente, a sua Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. Esqueceu as suas culpas antigas, não ostenta a menor cicatriz dos primeiros ferimentos. Abandonou os seus longos anos de paralisia na piscina, como tinha feito o paralítico, e deixou de trazer o leito aos ombros, mas traz às costas a cruz Daquele que teve piedade dele […]. Outrora, o Amigos dos homens lavou muitos homens nas águas, mas eles não brilharam assim; àqueles, porém, a Ressurreição tornou-os luminosos. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado. […]. Eis-te recriado, novo batizado, eis-te renovado; não curves as costas ao peso dos pecados. Possuis a cruz como cajado, apóia-te nela. Leva-a à tua oração, leva-a para a mesa, leva-a para o leito, leva-a para todo o lado como título de glória. […] Grita aos demônios: Com a cruz na mão, ergo-me, louvando a Ressurreição. Glória a Ti, glória a Ti, porque tal foi do Teu agrado (Romano, o Melodista (490-556) – A Quaresma é o caminho da renovação).

Confissão:
Meu Deus, na Tua compaixão
derrama sobre mim o olhar do Teu amor
E recebe a minha ardente confissão.
Pequei mais do que todos os homens,
pequei só contra Ti, Senhor;
faz-me participar da Tua misericórdia,
meu Salvador, porque me criaste. […]
Meu Redentor, manchei a Tua imagem e semelhança (Gn 1, 26), […]
desfiz em farrapos o vestuário de perfeição
que o próprio Criador fabricou para mim e estou nu;
em seu lugar quis usar uma farpela rasgada,
obra da serpente que me seduziu (Gn 3, 1-5). […]
Fiquei fascinado com a beleza
da árvore que traiu a minha inteligência:
agora estou nu e coberto de vergonha. […]
O pecado me revestiu de túnicas de pele (Gn 3, 21),
agora que fui despojado
das vestes tecidas pelo próprio Deus. […]
E, como a prostituta, grito:
pequei contra Ti, só contra Ti.
Ó Salvador, acolhe as minhas lágrimas,
como aceitaste o perfume da pecadora (Lc 7, 36 ss.)
E, como o publicano, grito:
tem piedade de mim, ó Salvador.
Perdoa-me, porque de toda a descendência de Adão
ninguém pecou como eu. […]
Prostrado como Davi,
estou coberto de lama;
Mas assim como ele se lavou nas próprias lágrimas,
lava-me Tu também, Senhor!
Ouve os gemidos da minha alma
e os suspiros do meu coração;
acolhe as minhas lágrimas
e salva-me, meu Redentor.
Porque Tu amas os homens
e queres que todos se salvem.
Faz-me voltar à Tua bondade
e nela me recebe,
porque estou arrependido  (André de Creta – (650-740), monge e bispo  - Grande Cânon da Liturgia Bizantina da Quaresma).

Louvor:
Naamã era sírio e estava leproso, sem que ninguém o pudesse curar. Então, uma jovem prisioneira disse-lhe que havia em Israel um profeta que podia curá-lo da lepra. […] Já é tempo de descobrires quem era aquela jovem prisioneira. Era a figura da assembleia mais nova de entre as nações, isto é, da Igreja do Senhor. Antes, quando não possuía ainda a liberdade da graça, fora humilhada pelo cativeiro do pecado. Mas, a seu conselho, este povo que não era ainda um povo escutou a palavra dos profetas, da qual duvidara durante muito tempo. Em seguida, quando acreditou que devia segui-la, o povo foi purificado de todo o contágio do pecado. Naamã duvidara antes de ser curado; mas tu já foste curado e por isso não deves duvidar. Já antes te foi dito que não devias acreditar apenas no que vês ao aproximares-te do batistério, para que digas: «É este o «grande mistério que nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem jamais passou pelo pensamento do homem» (1Cor 2, 9)? Eu vejo as águas que via todos os dias. Vão purificar-me estas águas a que tantas vezes desci sem nunca ter sido purificado?» Deves reconhecer que a água não purifica sem o Espírito. Por isso, leste que no batismo as três testemunhas são uma só: a água, o sangue e o Espírito (1Jo 5, 7-8); porque, se prescindires de uma delas, já não há sacramento do batismo. Que é a água sem a cruz de Cristo? É um elemento comum, sem nenhuma eficácia sacramental. Mas também é verdade que sem a água não há mistério da regeneração: «quem não renascer da água e do Espírito não entrará no reino de Deus» (Jo 3, 5). Também o catecúmeno acredita na cruz do Senhor Jesus, com a qual é assinalado; mas, se não for batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, não pode receber o perdão dos pecados nem obter o dom da graça espiritual. Por isso o sírio Naamã mergulhou sete vezes, segundo a Lei; tu, porém, foste batizado em nome da Trindade. […] Proclamaste a tua fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo. […] Morreste para o mundo, ressuscitaste para Deus e, de certo modo sepultado naquele elemento do mundo, morto para o pecado, ressuscitaste para a vida eterna (Rm 6, 4). (Ambrósio de Milão (340-397), bispo de Milão – A Quaresma é um caminho para o Batismo).

Oração de Preparação para a Leitura Bíblica:
Kyrios
Senhor e Mestre da minha vida,
não me abandones ao espírito de preguiça, de desencorajamento
de dominação e de vã tagarelice.
Concede-me a graça de um espírito de castidade, de humildade,
de paciência e de caridade, a mim, Teu servo.
Sim, meu Senhor e meu Rei, que eu veja as minhas faltas
e não condene o meu irmão.
Tu, que és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.
Ó Deus, tem piedade de mim, pecador.
Ó Deus, purifica-me que sou pecador.
Ó Deus, meu Criador, salva-me.
Perdoa-me os meus numerosos pecados!
Bendito Aquele que vem, o nosso Rei»
(Efrém, o Sírio – (306-373).

Edificação:
Leitura Bíblica: Mateus 6.1-18

O dia de hoje, meus bem-amados, é da maior importância. É um dia que nos solicita um grande desejo, uma pressa imensa, um alento vivo, para nos conduzir ao encontro do Rei dos Céus. Paulo, o mensageiro da Boa Nova, dizia-nos: «O Senhor está perto. Não vos inquieteis» (Fil 4, 5-6). […] Acendamos, pois, as lamparinas da fé; à semelhança das cinco virgens sensatas (Mt 25, 1ss.), enchamo-las do óleo da misericórdia para com os pobres; acolhamos a Cristo bem despertos, e cantemos-Lhe com as palmas da justiça na mão. Beijemo-Lo, derramando sobre Ele o perfume de Maria (Jo 12, 3). Ouçamos o cântico da ressurreição: que as nossas vozes se elevem, dignas da majestade divina, e brademos com o povo, soltando esse grito que se escapa das bocas da multidão: «Hosana nas alturas! Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel». É razoável chamar-Lhe «Aquele que vem», porque Ele vem sem cessar, porque Ele nunca nos falta: «O Senhor está próximo de quantos O invocam em verdade» (Sl 144, 18). «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor». O Rei manso e pacífico está à nossa porta. Aquele que tem o trono nos céus, acima dos querubins, senta-Se, cá em baixo, sobre uma burrinha. Preparemos a casa da nossa alma, limpemos as teias de aranha que são os mal-entendidos fraternos, que não haja em nós a poeira da maledicência. Difundamos às mãos-cheias a água do amor, e apaziguemos todas as feridas criadas pela animosidade; semeemos o vestíbulo dos nossos lábios com as flores da piedade. E soltemos então, na companhia do povo, esse grito que brota dos lábios da multidão: «Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel». (Proclo de Constantinopla (390-446), bispo – A Quaresma prepara para o Dia de Ramos).


Dedicação:
Depois deste tempo consagrado à observância do jejum, a alma chega, purificada e esgotada, ao batismo. Recobra então as forças mergulhando nas águas do Espírito; tudo o que tinha sido queimado pelas chamas das doenças renasce do orvalho da graça do céu. Abandonando a corrupção do homem velho, o neófito adquire uma nova juventude […]. Através de um novo nascimento, renasce outro homem, sendo embora o mesmo que tinha pecado. Por meio de um jejum ininterrupto de quarenta dias e quarenta noites, Elias mereceu pôr fim, graças à água que veio do céu, a uma seca longa e penosa na terra inteira (1Rs 19, 8; 18, 41). Extinguiu a sede ardente do solo trazendo-lhe uma chuva abundante. Estes fatos produziram-se para nos servir de exemplo, para merecermos, após um jejum de quarenta dias, a chuva bendita do batismo, para que a água que vem do céu regue toda a terra, desde há muito tempo árida, dos nossos irmãos do mundo inteiro. O batismo, como uma rega de salvação, porá fim à longa esterilidade do mundo pagão. É, com efeito, de seca e de aridez espiritual que sofre todo aquele que não foi banhado pela graça do batismo. Através de um jejum do mesmo número de dias e noites, o santo Moisés mereceu falar com Deus, ficar, permanecer com Ele, receber das Suas mãos os preceitos da Lei (Ex 24, 18). […] Também nós, irmãos muito queridos, jejuamos com fervor durante todo este período, para que […] também para nós se abram os céus e se fechem os infernos (Máximo de Turim (380-465), bispo
Sermão 28 – Importância do Jejum na Quaresma).

Bênção Final:
Aproximaste-te, viste a pia batismal e viste também o bispo perto da pia. E sem dúvida surgiu na tua alma o mesmo pensamento que se insinuou na de Naaman, o sírio. Pois, embora tenha sido purificado, inicialmente ele duvidara. […] Temo que alguém tenha dito: «É apenas isto?» Sim, realmente é apenas isto: ali encontra-se toda a inocência, toda a piedade, toda a graça, toda a santidade. Viste o que conseguiste ver com os olhos do corpo […]; aquilo que não se vê é muito maior […], porque aquilo que não se vê é eterno […]. Que haverá de mais surpreendente do que a travessia do Mar Vermelho pelos israelitas, para não falarmos agora apenas do batismo? E, no entanto, todos os que o atravessaram morreram no deserto. Pelo contrário, aquele que atravessa a pia batismal, isto é, aquele que passa dos bens terrestres para os do céu […], não morre, mas ressuscita. Naaman era leproso. […] Ao vê-lo chegar, o profeta disse-lhe: «Vai, entra no Jordão, banha-te e ficarás curado.» Ele pôs-se a refletir em si mesmo e disse para consigo: «É apenas isto? Vim da Síria à Judeia e disseram-me: vai até ao Jordão, banha-te e ficarás curado. Como se não houvesse rios melhores no meu país!» Os servos diziam-lhe: «Senhor, por que não fazes o que diz o profeta? Fá-lo, experimenta.» Então ele foi até ao Jordão, banhou-se e ficou curado. Que significa isto? Viste a água, mas nem toda a água cura; mas a água que contém em si a graça de Cristo cura. Há uma diferença entre o elemento e a santificação, entre o ato e a eficácia. O ato realiza-se com água, mas a eficácia vem do Espírito Santo. A água não cura se o Espírito Santo não tiver descido e consagrado aquela água. Leste que quando nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o rito do batismo, veio ter com João e este disse-Lhe: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por Ti. E Tu vens até mim?» (Mt 3,14). […] Cristo desceu; João, que batizava, estava a Seu lado; e eis que, como uma pomba, o Espírito Santo desceu. […] Por que desceu Cristo primeiro e em seguida o Espírito Santo? Por que razão? Para que o Senhor não parecesse ter necessidade do sacramento da santificação: é Ele que santifica; e é também o Espírito que santifica (Ambrósio de Milão (340-397), Bispo de Milão – Quaresma para o Santo Batismo).

“A honra do jejum consiste não na abstinência da comida, mas em evitar as ações pecaminosas; quem limita o seu jejum apenas à abstinência de carnes o desonra. Praticas o jejum? Prova-me por tuas obras! Perguntas que tipo de obras? Se vires um inimigo, reconcilia-te com ele! Se vires um amigo tendo sucesso, não o inveje! Se vires uma mulher bonita, passe sem olhar! Que não apenas a boca jejue, mas também os olhos, e os ouvidos, e os pés, e as mãos, e todos os membros de nossos corpos. Que as mãos jejuem sendo puras da avareza e da rapina. Que os pés jejuem, deixando de caminhar para espetáculos imorais. Que os olhos jejuem, não se detendo sobre feições belas, ou se ocupando de belezas exóticas. Pois o que é visto é a comida dos olhos, mas se o que for visto for imoral ou proibido, macula-se o jejum e perturba toda a segurança da alma; mas se for moral e seguro, o que é visto adorna o jejum. Pois seria absurdo abster-se da comida permitida por causa do jejum, mas devem os olhos absterem-se até de tocar o que é proibido. Não comes carne? Então não se alimente de luxúria através dos olhos. Que também os ouvidos jejuem. O jejum dos ouvidos consiste em recusar-se a ouvir assuntos perversos e calúnias. ‘Não receberás notícias falsas’, já foi dito. Que a boca também jejue de falar coisas vergonhosas e de ficar reclamando. Pois que ganhas se te absténs de pássaros e peixes, e mesmo assim mordes e devoras teu próximo? O que tem fala maligna come a carne de seu irmão, e morde o corpo de seu próximo.” (João Crisóstomo (347-407). Orientação sobre o verdadeiro Jejum Quaresmal).

Autores dos textos

Romano, o Melodista (490-556)
Nascido por volta de 490 em Emesa (hoje, Homs), na Síria foi um teólogo, poeta e compositor, "pertence à grande plêiade de teólogos que transformaram a teologia em poesia", nas palavras do Papa Bento XVI. Sendo uma figura pouco conhecida, Romano permanece na história como um dos mais representativos autores de hinos litúrgicos. Romano não adotou o solene grego bizantino da corte, mas um grego simples, próximo à linguagem do povo. Vivendo em Constantinopla por volta do final do reinado de Anastácio I Dicoro (518), teria tido uma visão da Virgem Maria. Maria o teria obrigado a engolir uma folha enrolada, o que teria lhe dado o dom da poesia [3] . Considerado santo por várias tradições cristãs, bem como padroeiro do canto ortodoxo, segundo algumas fontes teria morrido por volta de 560.

Máximo de Turim (380-465)
Foi um bispo e escritor de teologia e é considerado santo e mártir. É o primeiro bispo que se tem memória em Turim, considerado o fundador da sua diocese, erigida pela iniciativa de santo Ambrósio e de santo Eusébio de Vercelli, de quem o próprio São Máximo se declarava discípulo[1] . Foi sucedido por São Vítor de Turim. Seu nome consta do martirológio romano no dia 25 de junho e a cidade de Turim o considera seu santo padroeiro. Do seu grande empenho apostólico dão testemunho os numerosos sermões e homilias, escritos com estilo claro e persuasivo. Num deles ele exorta com firmeza seus fiéis, amedrontados pela aproximação do exército dos bárbaros a empunhar as armas do “jejum, daoração e da misericórdia” e aos medrosos que se apressavam a fugir da cidade diz: “É injusto e ímpio o filho que abandona a mãe no perigo. A Pátria é sempre uma doce mãe" . Uma hagiografia sua, pouco confiável, foi escrita depois do século XI. Ela afirma que um clérigo um dia seguiu São Máximo com más intenções até uma capela afastada onde ele gostava de se retirar para rezar. O clérigo subitamente ficou com tanta sede que pediu ajuda a Máximo. Uma corça apareceu e o santo a fez parar para que o clérigo pudesse tomar de seu leite. Esta lenda explica o fato de o santo, por vezes, ser representado na arte apontando para uma corça.


André de Creta (650-740)
Também conhecido como André de Jerusalém,  foi um bispo, teólogo, homilista e hinógrafo. Nascido em Damasco de pais cristãos, André ficou mudo do nascimento até os sete anos, quando, de acordo com o seu hagiógrafo, ele foi milagrosamente curado após ter recebido a Eucaristia. Ele começou a sua carreira eclesiástica com quatorze anos na Lavra de Mar Saba, perto de Jerusalém, onde ele rapidamente se fez notar pelos seus superiores. Teodoro, o locum tenens do Patriarca Ortodoxo de Jerusalém o fez arquidiácono e o enviou para a capital imperial Constantinopla como seu representante oficial no Sexto Concílio Ecumênico (680 - 681), que fora convocado pelo imperador bizantino Constantino Pogonatos para conter a heresia do monotelismo. Logo após o concílio, ele foi chamado de volta de Jerusalém para Constantinopla e foi apontado como arquidiácono da grande Igreja de Santa Sofia. Eventualmente, ele foi ascendeu à posição de metropolita de Gortina, em Creta. Ainda que ele fosse um adversário do monotelismo, ele compareceu ao sínodo de 712, no qual os decretos do concílio ecumênico foi abolidos. Mas no ano seguinte ele se arrependeu e retornou à ortodoxia. Dali em diante ele se ocupou em pregar compondo hinos e seus discursos são conhecidos pela escolha das frases, digna e harmoniosa, e ele é reconhecido por isso como um dos principais oradores da época bizantina.
Historiadores eclesiásticos não compartilham de uma mesma opinião sobre a data de sua morte. O que se sabe é que ele morreu na ilha de Mitilene enquanto retornava para Creta a partir de Constantinopla, onde ele estava para resolver assuntos da Igreja. Suasrelíquias foram posteriormente transladadas para Constantinopla, pois, em 1350, elas foram vistas pelo peregrino russo Estevão de Novgorod no Mosteiro de Santo André de Creta (atual Mesquita Koca Mustafa Paşa), na capital imperial.

Efrém, o Sírio (306-373).
Foi um prolífico compositor de hinos e teólogo do século IV, venerado por cristãos do mundo inteiro, especialmente pela Igreja Ortodoxa Síria, como um santo. Nascido em Nísibis, foi discípulo de Tiago de Nísibis na famosa escola da cidade. Escapando do avanço do exército sassânida, fugiu para Edessa onde lecionou por muitos anos. Autor de uma grande variedade de hinos, poemas e sermões de exegese bíblica, em verso e em prosa. Suas obras são exemplos de uma teologia prática voltadas para defesa da igreja em tempos turbulentos e tornaram-se tão populares que, por séculos após a sua morte, autores cristãos escreveram centenas de trabalhos pseudepígrafes em seu nome. Efrém tem sido considerado o mais importante de todos os padres da Igreja na tradição siríaca da igreja.

Proclo de Constantinopla (390-446),
Foi um arcebispo de Constantinopla. Foi responsável pela conversão do tio de Melânia, a Jovem, Volusiano. Amigo e discípulo de João Crisóstomo, ele se tornou um secretário do arcebispo, Ático (406-425), que também o ordenou diácono e padre. O sucessor de Ático, Sisínio I (426-427), o consagrou bispo da cidade de Cízico, porém seus habitantes se recusaram a aceitá-lo como seu bispo e ele permaneceu na capital imperial. Com a morte de Sisínio, Nestório o sucedeu como arcebispo de Constantinopla (428-431). No início de 429, num festival em homenagem à Teótoco (Virgem Maria), Proclo fez o seu celebrado sermão sobre a encarnação de Jesus, que posteriormente foi inserido no começo dos atos do concílio de Éfeso. Quando o arcebispo Maximiano (431-434) morreu na quinta-feira santa, Proclo foi imediatamente conduzido ao trono com a permissão do imperador Teodósio II e dos bispos reunidos em Constantinopla. Sua primeira preocupação foi o funeral de seu antecessor. Em seguida, ele enviou aos seus pares, o Patriarca de Alexandria Cirilo e o Patriarca de Antioquia João, as costumeiras cartas sinódicas anunciando sua ascensão, que foi aprovada por ambos. Em 436, os bispos da Armênia o consultaram sobre uma certa doutrina existente em seu país e a atribuíram a Teodoro de Mopsuéstia, pedindo que ele a condenasse. Proclo respondeu no ano seguinte, na celebrada carta conhecida como "Tomo de Proclo", que ele enviou para os bispos do oriente pedindo que eles a assinassem e que se juntassem a ele na condenação da doutrina levantada pelos armênios. Eles aprovaram as cartas, mas, por admiração a Teodoro, hesitaram em condenar as doutrinas atribuídas a ele.  Proclo respondeu que ainda que ele desejasse que os trechos anexados ao seu Tomo fossem condenados, ele não os tinha atribuído a Teodoro ou a nenhum outro indivíduo, não desejando assim condenar ninguém pessoalmente. Uma ordem imperial conseguida por Proclo, declarando seu desejo de que todos deveriam viver em paz e que nenhuma acusação deveria ser feita contra ninguém que tenha morrido em comunhão com a igreja apaziguou os ânimos. O caso como um todo serviu para demonstrar a moderação e o tato de Proclo. Em 438, ele transferiu as relíquias de seu antigo mestre, João Crisóstomo, de Comana Pôntica para Constantinopla, onde ele as enterrou com grandes honras na Igreja dos Doze Apóstolos.  Este ato reconciliou a igreja com os seguidores de João, que tinham se separado quando ele foi injustamente deposto de seu patriarcado. Em 439, a pedido de uma missão diplomática de Cesareia, na Capadócia, ele selecionou como seu novo bispo, Talássio, que estava prestes a ser nomeado como prefeito pretoriano do Oriente. Neste período Constantinopla foi varrida por inúmeros terremotos que ocorreram em um período de quatro meses o que obrigou a população viver temporariamente nos campos próximos. Proclo morreu provavelmente em julho de 446.

Ambrósio de Milão (340-397).
(Aurélio Ambrósio) Foi um arcebispo de Mediolano (moderna Milão) que se tornou um dos mais influentes membros do clero no século IV. Ele era prefeito consular da Ligúria e Emília, cuja capital era Mediolano, antes de tornar-se bispo da cidade por aclamação popular em 374. Ambrósio era um fervoroso adversário do arianismo. Tradicionalmente atribui-se a Ambrósio a promoção do canto antifonal, um estilo no qual um lado do coro responde de forma alternada ao canto do outro, e também a composição do Veni redemptor gentium, um hino natalino. Ambrósio é um dos quatro doutores da Igreja originais e é notável por sua influência sobre o pensamento de Santo Agostinho.


João Crisóstomo (347-407).


Foi um arcebispo de Constantinopla e um dos mais importantes patronos do cristianismo primitivo. Ele é conhecido por suas poderosas homilias e por sua habilidade oratória, por sua denúncia dos abusos cometidos por líderes políticos e eclesiásticos de sua época, por sua "Divina Liturgia" e por suas práticas ascetas. O nome Crisóstomo significa "da boca de ouro" em língua grega e lhe foi dado por conta de sua lendária eloquência. O título apareceu pela primeira vez na "Constituição" do papa Vigílio em 553. É considerado o maior pregador cristão da história.